A inflação de longo prazo no Brasil
A inflação de longo prazo no Brasil converge para o intervalo de 5,8-6,1%.
No desenho de qualquer política econômica, das decisões estratégicas das empresas e no planejamento familiar nos mais diversos domicílios, figura uma variável macroeconômica que, em um país como o Brasil, não deixa de ocupar espaço nem na mídia, nem nas nossas preocupações: a taxa de inflação.
Para calcular como se comporta a taxa de inflação doméstica, o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, o IBGE, desenvolveu o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo, o chamado IPCA, que serve como referência para negociações salariais, reajuste de contratos e de aplicações financeiras e para a condução da política monetária, dentre outros papéis que desempenha na nossa economia.
De posse dos dados do IPCA, fiz o seguinte exercício: a partir de diferentes datas de início (janeiro de 1997, janeiro de 2000, janeiro de 2004, janeiro de 2010 e janeiro de 2014), eu calculei a taxa média mensal anualizada do IPCA. Os resultados podem ser vistos no gráfico a seguir.
As cinco métricas de taxa de inflação média de longo prazo convergem para o incômodo intervalo entre 5,8% e 6,1%. Ainda que experimentemos, no curto prazo, valores inferiores de perda no poder de compra, o que os dados nos dizem é que a estrutura da economia brasileira parece produzir, em média, uma taxa de inflação que é o dobro daquela que o Banco Central do Brasil deve perseguir atualmente. Algo estrutural tem que mudar para que a nossa inflação convirja para níveis menores sistematicamente, e não apenas em pequenos interregnos.
Ainda que Milton Friedman tenha dito que a inflação seja sempre e em qualquer lugar um fenômeno monetário, Thomas Sargent ressalta que a inflação persistentemente alta é sempre e em qualquer lugar um fenômeno fiscal. Muito mais do que auxílio na consolidação da desinflação pós-pandemia, a interação entre política monetária e política fiscal é crucial para escaparmos desse equilíbrio de inflação de longo prazo em 6% ao ano. É possível. A questão é o Brasil estar disposto e fazer escolhas fiscais, sociais e monetárias que sejam responsáveis. Será que a nossa economia política um dia vai permitir?