Afinal, choques nos termos de troca são importantes para os ciclos econômicos?
Como choques nos preços das exportações e nos preços das importações possuem efeitos assimétricos e são importantes para explicar as flutuações em economias emergentes.
Uma das áreas de estudo da macroeconomia diz respeito a como os choques nos termos de troca (a razão entre preços das exportações e os preços das importações) afetam os ciclos econômicos em economias abertas ao comércio internacional e ao fluxo de capitais. Em The Terms of Trade, the Real Exchange Rate, and Economic Fluctuations, Enrique G. Mendoza documenta alguns fatos estilizados:
Os choques nos termos de troca são grandes, persistentes e fracamente pró-cíclicos.
As correlações observadas entre as exportações líquidas e os termos de troca são pequenas, positivas e independentes das autocorrelações dos termos de troca.
Economias em desenvolvimento possuem flutuações macroeconômicas maiores, ainda que possam eventualmente ter estatísticas semelhantes à de países desenvolvidos (no artigo, Mendoza ressaltou o desvio-padrão relativo de algumas variáveis macroeconômicas, as autocorrelações dessas variáveis e as correlações delas com o PIB; todavia, é importante ressaltar que já há extensa documentação mostrando que, por exemplo, o consumo em economias em desenvolvimento oscila muito mais - em termos absolutos e em relação ao PIB - do que em economias desenvolvidas).
As flutuações na taxa de câmbio real são grandes e pró-cíclicas.
Os resultados do modelo do autor corroboram a hipótese de que os choques nos termos de troca são importantes para explicar as flutuações macroeconômicas em economias emergentes, contribuindo com participação entre 45% e 60% nos movimentos do PIB e na taxa de câmbio real. Esse tipo de resultado, ainda que possua divergências quantitativas em função de parâmetros e modelos diferentes, é relativamente comum em modelos teóricos: os termos de troca importam. Contudo, será que a evidência empírica aponta na mesma direção?
O que dizem os dados?
Em How Important are Terms-of-Trade Shocks?, Stephanie Schmitt-Grohé e Martín Uribe comparam os resultados de uma versão mais geral do modelo de Mendoza (1995) - denominado modelo MXN e elaborado também no capítulo 8 do livro de macroeconomia aberta dos autores - com os resultados de modelos SVAR para cada um dos países da amostra. Os autores encontram certa desconexão entre os modelos teóricos e os modelos empíricos. Na abordagem empírica, choques nos termos de troca explicam apenas 10% das flutuações macroeconômicas. Ainda que não seja um percentual desprezível, é bem inferior àqueles obtidos com modelos teóricos. O que será que está por trás dessa diferença?
Nem todos os choques são iguais
A resposta pode ser encontrada em Terms-of-Trade Shocks Are Not All Alike, artigo de autoria de Federico Di Pace, Luciana Juvenal e Ivan Petrella, publicado este ano no American Economic Journal: Macroeconomics. Uma coluna mais antiga, publicada no VoxEU, sintetiza os resultados encontrados no trabalho.
Fundamentalmente, os autores utilizam o modelo MXN, mas relaxam uma hipótese crucial: a definição da taxa de câmbio real. Nos modelos teóricos em que figuram apenas choques reais, muitas vezes se assume que a taxa de câmbio real é igual aos termos de troca. Essa hipótese implica que choques nos preços das exportações e nos preços das importações teriam efeitos simétricos. Isso pode não ser verdade.
Os autores utilizaram dados de preços de exportações e preços de importações de diversos países, em uma base de dados interessante e disponibilizada por eles aqui. Empiricamente, eles encontram que choques positivos nos preços das exportações estimulam o PIB, o consumo privado e o investimento, ao passo que quando o choque ocorre nos preços dos bens importados, o canal parece ser mais “silenciado”. Esse resultado é corroborado pelo modelo teórico com o ajuste supracitado.
Em suma, sim, os termos de troca importam. Eles são não são influenciados da mesma maneira quando se trata da origem dos choques. E esse resultado é super importante. Em um mundo de guerras comerciais, compreender os efeitos assimétricos dos choques nos componentes dos termos de troca parece crucial para analisar as consequências sobre a atividade econômica causadas pelos aumentos de tarifas, especialmente me economias emergentes.