Cadeias produtivas, inflação e ativos digitais
Temas de textos recentes que achei interessante compartilhar como recomendação de leitura desta newsletter.
Trago aqui três textos que me interessaram e achei que faria sentido compartilhar com vocês. O primeiro aborda uma decomposição de choques setoriais e agregados que nos ajuda a entender as diferenças entre a dinâmica inflacionária nos EUA e na Europa.
Os outros dois textos versam sobre (i) contágio e regulação de ativos digitais e (ii) a tokenização desses ativos e o que a CVM tem feito nesse sentido. Boa leitura!
Cadeias produtivas e inflação
Em recente coluna no VoxEU, Julian di Giovanni, Sebnem Kalemli-Ozcan, Alvaro Silva e Muhammed A. Yıldırım escrevem sobre “Supply chains, trade, and inflation”. Os autores introduzem três tipos de choques em um modelo multi-setorial e consuzem algum experimentos.1 Os choques são: choques setoriais de oferta (como, por exemplo, impactos em diferentes mercados em decorrência de lockdowns), choques setoriais de demanda (como a mudança de composição na cesta de consumo por parte das famílias durante a pandemia) e choques de demanda agregada.
A partir da versão do modelo em economia aberta, os autores realizam um exercício de decomposição interessante, especialmente no que tange as diferenças entre a particiação relativa dos tipos de choques entres os EUA e a Zona do Euro, conforme os gráficos abaixo:
(A regulação e a oferta de) ativos digitais
Um tema que tem me interessado bastante é o de ativos digitais, sejam moedas digitais de bancos centrais (já abordei este tema duas vezes, aqui e aqui) ou ativos oferecidos e criados por parte de outros agentes do mercado.
Quando pensamos nesses tipos de produtos, a narrativa mais usual (e superficial) versa sobre a natureza “emancipatória” (em relação ao Estado) desses produtos. O problema está, muitas vezes, em tomar como dado algo que pode ter contornos mais de inspiração/vontade do que uma análise prospectiva. E isso pode fazer com que venhamos a perder de vista que há um movimento forte de interesse em regular esse tipo de transação.
O risco sistêmico desses tipos de ativos é abordado em texto de Nobuyasu Sugimoto para o blog do FMI, cuja entrada é intitulada Crypto Contagion Underscores Why Global Regulators Must Act Fast to Stem Risk.
O autor exemplifica os riscos associados à volatilidade de ativos digitais ilustrando com o comportamento do preço da Bitcoin:
Vou escrever mais sobre a dinâmica desses mercados, implicações macro-financeiras e a regulação em textos futuros.
Tokenização: a representação digital de um ativo
Alexandre Ludolf e Jéfferson Colombo escreveram um interessante artigo intitulado A tokenização de ativos na nova economia digital. Nele, os autores abordam a tendência crescente (e que deve ganhar força nos próximos anos) de aumento da quantidade de ativos representados digitalmente. Nas palavras dos autores, temos:
“O principal valor de tecnologias de registro decentralizadas (DLTs da sigla em inglês) é transformar a maneira como a propriedade ou custódia de qualquer ativo é definida, protegida e negociada. Este processo tem a capacidade de substituir o papel das entidades centralizadas tradicionais que, em arcabouços socioeconômicos convencionais, costumam atuar como os garantidores desses ativos e direitos.”
Eles ainda ressaltam o grande potencial desse tipo de prática, uma vez que o valor representado digitalmente ainda é baixo.
Os próximos anos podem transformar completamente a economia que conhecemos hoje, vale acompanhar essa e outras tendências.
Boa leitura!
Baqaee, D and E Farhi (2022), “Supply and demand in disaggregated Keynesian economies with an application to the covid-19 crisis”, American Economic Review 112(5), 1397-1436.