Consolidação fiscal, aperto monetário global e inflação durante e após a Covid-19
Temas de textos recentes que achei interessante compartilhar como recomendação de leitura desta newsletter.
Não é novidade que eu gosto de acompanhar as discussões presentes no VoxEU. Trago aqui três textos interessantes que tocam em temas que estão intimamente relacionados para quem quiser entender a conjuntura macroeconômica internacional neste difícil mundo pós(?)-pandemia. As discussões e escolhas sobre o que fazer com a situação fiscal de diversos países após uma investida forte para acomodar o choque da pandemia se agravaram após o aumento dos juros de maneira sincronizada, mas não necessariamente coordenada, em diversos países. E para entender isso tudo, faz-se necessário compreender a dinâmica dos preços.
Consolidação fiscal: dá para pagar as contas com a inflação?
A resposta para a pergunta acima, ao olharmos a Rui Esteves e Barry Eichengreen, é: usualmente, não. Em Up and away: Inflation and debt consolidation in historical perspective os autores encontram que as consolidações de dívida pública geralmente ocorrem em momento de alta de preços. Mas se o aumento da inflação se tornar persistente, a contribuição da mesma para diminuir o crescimento da razão dívida/PIB é corroída pelo seu impacto nas taxas de juros da dívida. Pagar a conta com a inflação, portanto, é algo, quanto muito, para o curtíssimo prazo. Aliás, já é um tema que abordei aqui.
Aumentos nos juros globais: sincronia e consequências
Com a recuperação das economias que conseguiram equacionar os problemas de saúde pública advindos da pandemia, veio o aumento da inflação, cuja dinâmica também foi influenciada não só pela recuperação macroeconômica, mas também por essa recuperação ocorrer i) em uma economia global ainda desorganizada e ii) com choques de preços de alimentos e energia como consequência da guerra na Ucrânia.
Alistair Dieppe e Davide Brignone argumentam em Synchronised interest rate hikes, spillovers and risks to global growth ser crucial que os banqueiros centrais considerem os spillovers globais para minimizar os custos em termos de atividade econômica das resposta monetárias aos aumentos das taxas de inflação.
A inflação durante e após(?) a pandemia
O tema que conecta os dois textos sugeridos acima é a taxa de inflação. O trabalho de Daniel Leigh, Prachi Mishra e Laurence Ball sintetizado em Understanding US inflation in the COVID era pode ajudar a entendermos o comportamento dos preços, ao menos no que toca os EUA. Mas ao entendermos a dinâmica por lá, podemos compreender melhor as escolhas da política monetária norte-americana e, com ela, seu impacto em outras economias (veja aqui uma discussão sobre como a política monetária nos EUA afeta as empresas de outros países).
Os autores decompõem a taxa de inflação em dois pilares: o núcleo e os choques, como vemos no gráfico acima extraído do texto. O primeiro componente, de acordo com elas, reflete o aperto no mercado de trabalho, ao passo que o segundo é reflexo dos preços de energia a dos problemas nas cadeias produtivas.
De acordo com o trabalho deles, a taxa de inflação nos EUA dificilmente retornaria à meta a não ser que a taxa de desemprego vá para um patamar acima de 4.4%.