O crescimento potencial do Brasil realmente aumentou?
Com a ajuda da contabilidade de crescimento, permaneço cético em relação às hipótese sobre aumento (significativo) do crescimento de longo prazo da economia brasileira.
Escrevi um texto com o mesmo título deste sobre as minhas ressalvas à hipótese de aumento do crescimento potencial da economia brasileira. Leia aqui antes de continuar.
No artigo, eu referencio o meu texto intitulado A insustentável leveza do crescer para quem quiser revisar conceitos sobre os determinantes do crescimento de longo prazo e uma análise que eu fiz em dezembro do ano passado sobre a contribuição dos choques permanentes e transitórios para a variação trimestral do PIB, com base em um modelo de equilíbrio geral dinâmico e estocástico (DSGE no acrônimo em inglês).
Faço menção também ao texto Produtividade no pós-pandemia, escrito por Fernando Veloso e publicado no Blog do IBRE, que por um caminho diferente expressa conclusão análoga à minha.
Contabilidade e crescimento
Como eu cheguei àqueles cenários para o crescimento econômico do Brasil? Além dos dados que estão descritos no artigo, considerei a seguinte função de produção:
onde Y(t) representa o PIB no instante de tempo t; K(t) é o estoque de capital, H(t) é o estoque de capital humano, A(t) representa a produtividade e L(t) é o número de trabalhadores, cujas participações no PIB são dadas pelos seus respectivos expoentes, cujos parâmetros são:1
A partir dessa estrutura, construí dois cenários (que estão descritos no texto) e são sintetizados na tabela abaixo. Nela, ‘Khat’ representa a taxa de crescimento do capital e, assim como ‘Hhat’, “Ahat’, ‘Lhat’ e ‘Yhat’ são as taxas de crescimento para o capital humano, a produtividade, a população ocupada e o PIB, respectivamente:
Note que a diferença entre os dois cenários é que no primeiro, eu utilizo as taxas de crescimento dos fatores entre 2013 e 2023 e no segundo, eu altero a taxa de crescimento do capital e da produtividade, mantendo constantes as demais.
A partir dessas taxas de crescimento e da função de produção anterior, podemos calcular a contribuição relativa de cada fator em cada um dos cenários:
Para termos uma ideia da sensibilidade da taxa de crescimento potencial à dinâmica do capital e da produtividade, eu sensibilizei o chamado “cenário 1” da seguinte forma:
Veja que, mesmo que tenhamos passado do “branco para o laranja”, ainda que façamos um grande esforço para aumentar essas taxas de crescimento, o melhor cenário seria de um ritmo de crescimento que pode ser sustentado sem gerar desequilíbrios de 2,6% ao ano. É pouco para um estágio de desenvolvimento como o do Brasil e, mesmo assim, ainda tenho alguma dificuldade em acreditar que já estejamos lá.
A participação do capital humano foi definida arbitrariamente. As conclusões do meu exercício não se alteram com outros valores, no entanto.