Trump, Kamala Harris e os Mercados Financeiros
Análise do impacto da entrada de Kamala Harris na disputa presidencial dos EUA sobre mercados financeiros globais, com destaque para câmbio, juros, ações e petróleo.
Inspirado pelo texto de Marco Albori, Alessandro Moro e Valerio Nispi Landi, intitulado US election risks and the impact of Trump’s re-election odds on financial markets, perguntei na minha última coluna (leia o texto aqui):
Será que a entrada de Kamala Harris na disputa presidencial alterou a forma como a probabilidade de vitória de Trump afeta as taxas de câmbio internacionais, os títulos do governo dos EUA, a bolsa americana e o preço do petróleo?
Utilizei dados diários para taxas de câmbio, preços de contratos do Predict It, bolsa norte-americana, juros dos títulos do tesouro dos EUA e o preço do petróleo e estimei um modelo com base no artigo Local projections in unstable environments, publicado este ano no Journal of Econometrics por Atsushi Inoue, Barbara Rossi, e Yiru Wang (afinal, se tem um ambiente que está instável é o das eleições norte-americanas).1
Como escrevi no artigo,
[O] modelo econométrico […] considera a possibilidade do impacto das mudanças da probabilidade de vitória de Trump nos preços de alguns ativos variar ao longo do tempo […]
Nos gráficos abaixo, vou reportar a mudança do impacto das variações na probabilidade de vitória de Donald Trump em diferentes ativos. Ou seja, ele mede qual é o impacto de um aumento em um ponto percentual na probabilidade de eleição de Trump em cada um dos ativos analisados (em pontos percentuais). Em todos eles, a linha vertical tracejada identifica a data a entrada de Kamala Harris como a representante do partido Democrata na eleição. Para as taxas de câmbio, eu considerei o índice da taxa nominal efetiva com base em uma cesta com 64 países calculada pelo Bank for International Settlements (BIS).
Peso Colombiano
Para a Colômbia, podemos ver uma mudança clara no gráfico. Antes da entrada de Kamala, o efeito era estatisticamente nulo, em média (ficava em torno de zero). Isto é, Trump crescer nas pesquisas (e nas apostas) não gerava efeitos no peso colombiano frente a uma cesta de moedas. Depois que a Kamala Harris entrou na disputa, no entanto, o efeito é mais claro: enfraquecimento da moeda no dia em que Trump sobe.
Peso Mexicano
Para a moeda do México, o pós-entrada de Kamala Harris é semelhante ao que observamos na Colômbia, mas eu diria que a dinâmica antes era diferente. Ainda que no começo da amostra o efeito de um aumento na probabilidade de eleição de Trump fosse associado a uma depreciação da moeda, a verdade é que de meados de fevereiro para frente, Trump subir (na época em relação a Biden) acabava por fortaceler a moeda, curiosamente,
Real Brasileiro
Analiso que para o Brasil (o “z” na figura abaixo é porque eu, originalmente, estava pensando em escrever um artigo acadêmico sobre o tema e já havia produzido os gráficos com esse fim) não houve muita alteração, em média, conforme podemos verificar no gráfico abaixo:
Euro
Para a Zona do Euro, assim como para o caso brasileiro, acredito que a conclusão é que, em média, a entrada de Kamala não provocou muita diferença “no sinal” do efeito, mas (especialmente no caso europeu) na magnitude:
Juros
Para a taxa de juros temos que os efeitos de Donald Trump pós-Kamala são de aumento (ainda que em uma magnitude pequena quando consideramos os impactos no próprio dia):
Bolsa
Curiosamente, juros para cima (gráfico acima) e bolsa também (gráfico abaixo):
Petróleo
Finalmente, os efeitos no preço do petróleo oscilaram bastante, mas se consolidaram, ao final da amostra na qual o estudo foi conduzido, em um impacto positivo: Donald Trump cresce e, com ele, o preço do petróleo também.
Quem quiser os demais gráficos, sinta-se à vontade para me enviar uma mensagem no LinkedIn.
Conforme eu escrevi no texto que originou a newsletter, “[c]onsiderei as taxas de câmbio da África do Sul, Argentina, Australia, Brasil, Canadá, Chile, Colômbia, Zona do Euro, Hong Kong, Índia, Japão, México, Peru, Tailândia e Turquia, bem como os preços do petróleo (WTI), um índice para a bolsa dos EUA (S&P 500) e as taxas de juros de títulos de três meses emitidos pelo tesouro norte-americano.”